LEITURA,
TEXTO E SENTIDO
A
concepção de língua como representação do pensamento corresponde à de sujeito
psicológico, individual, dono de sua vontade e de suas ações, nessa concepção
de língua como representação do pensamento e de sujeito como senhor absoluto de
suas ações e de seu dizer o texto é visto como um produto, lógico, do
pensamento do autor, nada mais cabendo ao leitor senão captar essa
representação mental, juntamente com as intenções do produtor, exercendo, pois,
um papel passivo.
A
leitura, assim, é entendida como atividade de captação das ideias do autor, sem
se levar em conta as experiências e os conhecimentos do leitor. Na concepção de
língua como código, portanto, como mero instrumento de comunicação, e de
sujeito como (pre)determinado pelo sistema, o texto é visto como simples
produto da codificação de um emissor a ser decodificado pelo leitor/ouvinte,
bastando a este, para tanto, o conhecimento do código utilizado.
A
leitura é, pois uma atividade interativa altamente complexa de produção de
sentidos, que se realiza evidentemente com base nos elementos linguísticos
presentes na superfície textual e na sua forma de organização, mas requer a
mobilização de um vasto conjunto de saberes no interior do evento comunicativo.
Com base nesta concepção podemos entender que:
Ø A leitura é uma
atividade na qual se leva em conta as experiências e os conhecimentos do
leitor;
Ø A leitura de um
texto exige do leitor bem mais que o conhecimento do código linguístico, uma
vez que o texto não é um simples produto da codificação de um emissor a ser
decodificado por um receptor passivo.
Fundamentamo-nos, pois, em uma
concepção sociocognitiva-interacional de língua que privilegia os sujeitos e
seus conhecimentos em processo de interação, ou seja, a leitura é uma atividade
de produção de sentidos. A leitura e a
produção de sentido são atividades orientadas por nossa bagagem sociognitiva: conhecimentos
da língua e das coisas do mundo (lugares sociais, crenças, valores, vivências).
A leitura é o processo no qual o
leitor realiza um trabalho ativo de compreensão e interpretação do texto, a
partir de seus objetivos, de seu conhecimento sobre o assunto, sobre o autor,
de tudo o que sabe sobre a linguagem etc. Não se trata de
extrair informação, decodificando letra por letra, palavra por palavra.
Trata-se de uma atividade que implica estratégias de seleção, antecipação,
inferência e verificação, sem as quais não é possível proficiência.
É o
uso desses procedimentos que possibilita controlar o que vai sendo lido,
permitindo tomar decisões diante de dificuldades de compreensão, avançar na
busca de esclarecimentos, validar no texto suposições feitas.
Anteriormente, destacamos a concepção
de leitura como uma atividade baseada na interação autor-texto-leitor. Se, por
um lado, nesse processo, necessário se faz considerar a materialidade
linguística do texto, elemento sobre o qual e a partir do qual se constitui a interação,
por outro lado, é preciso também levar em conta os conhecimentos do leitor, condição
fundamental para o estabelecimento da interação, com maior ou menor intensidade,
durabilidade, qualidade.
Considerar o leitor e seus
conhecimentos e que esses conhecimentos são diferentes de um leitor para outro
implica aceitar uma pluralidade de leituras e de sentidos em relação a um mesmo
texto, mas, o sentido não está apenas no leitor, nem no texto, mas na interação
autor-texto-leitor.
A pluralidade de leituras e de
sentidos pode ser maior ou menor dependendo do texto, do modo como foi
constituído, do que foi explicitamente revelado e do que foi implicitamente
sugerido, por um lado; da ativação, por parte do leitor, de conhecimentos de
natureza diversa, e de sua atitude cooperativa perante o texto, por outro lado.
Já
em se tratando de fatores de compreensão da leitura, os fatores relativos ao
autor/texto, por um lado, ou ao texto, por outro lado, podem interferir nesse
processo, de modo a dificultá-lo ou facilitá-lo. A compreensão não requer que
os conhecimentos do texto e os do leitor coincidam, mas que possam interagir.
Conceitos:
Ø Texto àPode-se
definir texto ou discurso como ocorrência linguística falada ou escrita, de
qualquer extensão, dotada de unidade sociocomunicativa, semântica (componente do sentido
das palavras e da interpretação das sentenças e dos enunciados) e formal;
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